quinta-feira, 15 de julho de 2010

Aos Medéias


Certo dia, no primeiro semestre deste ano, tivemos uma aula na faculdade reservada para a discussão da obra "Medéia" de Eurípedes. Eu me lembro de muitos comentários, muitas opiniões divergentes, mas um dos únicos pontos em que todo mundo concordava era: "Que absurdo, uma mãe matar os próprios filhos!”.

Sei lá quantos dias depois, eu estava passeando com meus amigos, e vimos de longe uma criança na frente da fonte do shopping. Um já soltou - provavelmente eu - "Odeio criança". E depois que aquele pequeno monstrinho começou a tirar a roupa e quase pular na água, alguém falou "Cadê a mãe desse menino prá dar uns tapas nessa peste?". Depois eu fiquei pensando...

Tenho certeza de que se fosse um estranho bater naquele menino, todo mundo ia ficar indignado. Principalmente os pais. Já tava até imaginando a porrada de processos que o agressor iria levar. Agora se o pai ou a mãe fosse lá e metesse a mão nele, todo mundo ia falar. "Isso aí! tem que aprender mesmo"!

Aprender o quê com isso? A bater nos coleguinhas quando eles estiverem fazendo algo errado também? Eu nunca ouvi ninguém falando "Nossa! Ainda bem que a minha mãe me bateu naquele dia. Por que senão, até hoje eu ia tentar pular em tudo quanto é fonte que eu visse por aí!". Calma lá! Qual é a diferença de bater e de explicar? A intenção não é ensinar? Se fosse assim, os professores iam bater toda vez que a gente errasse a tabuada do sete. E ninguém é a favor disso. Por amor? Que amor o quê? Por pura falta de controle emocional, isso sim! Coisa mais boçal!

Nossa! Quanta revolta eu escrevi aí em cima, haha! Por que mesmo, eu tô falando disso? Ah! Claro! Porque agora fizeram uma lei aí, proibindo os pais de bater nos filhos! Eu tava acompanhando, tá saindo nos jornais do mundo todo! Bem legal! O Lula falou que o objetivo não é ensinar os pais a serem pais, mas mostrar que isso pode ser resolvido de uma maneira diferente. E tá certinho! Agora temos que esperar a lei ser votada! Eu só acho que vai ser meio difícil essa punição! Porque muitas vezes os pais batem nos filhos dentro de casa, sozinhos nos quartos. Eu não imagino uma criança de cinco anos indo a uma delegacia falar "Moço, minha mamãe me bateu!". Mas de qualquer forma, é um meio de tentar resolver o problema. Pelo menos na frente de todo mundo, ninguém pode bater nos filhos.

Saco! Por que não criaram um negócio desses na minha época de apanhar? Não que meus pais fossem uns loucos agressores, não eram! Mas eu apanhei bastante, aí eu chorava, e apanhava porque eu tava chorando. Não precisava de nada disso. Com certeza eu aprendia melhor, quando eles simplesmente falavam pra eu não fazer alguma coisa e me explicavam o porquê. Eu tinha muito mais medo de magoar meus pais do que de apanhar, isso é verdade!

Tomara que dê certo. Aí, uns tempos pra frente alguém vai escrever uma outra obra, cujo crime da mãe é bater no filho. Já tô até vendo os universitários na sala de aula falando: “Que absurdo, uma mãe bater nos próprios filhos!".

Víni Branquinho

2 comentários:

  1. Outro post excelente querido.. mas o que vc diz é verdade. Por experiência própria posso dizer que o máximo que a criança sente ao apanhar é raiva dos pais. E isso é péssimo.
    Continue escrevendo!
    Bjsss

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  2. Acho totalmente absurdo o Estado querer intervir na vida doméstica de seus cidadãos. Além disso, se é pra assegurar os direitos humanos da criança e do adolescente, que seja com uma lei com valor realmente coercitivo e com um "objeto" passível se ser fiscalizado. É bem como vc falou msm, ñ dá pra averiguar o fato se o pai bate na criança sozinho, em casa.
    Caso que vai a julgamento por motivo de agressão física já é outra história, e já tem até legislação específica.
    Só o ECA vibrou com esse projeto de lei.

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